sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Análise do filme "Linha Mortal"



             Linha Mortal ou “Flatliners” é um filme americano de 1990, que foi dirigido por Joel Schumacher e contou com a participação de Julia Roberts. O filme conta a história de um estudante de medicina (Nelson) que deseja encontrar respostas sobre o que ocorre depois da morte e, para isso, convence outros estudantes (Rachel, David, Joe e Randy) a realizarem um experimento no qual uma parada cardíaca e uma posterior reanimação seriam induzidas nele mesmo. Além de Nelson, Rachel também tenta encontrar respostas, só que de outra forma: ela entrevista os pacientes que vivenciaram experiências de quase-morte; percebe-se uma diversidade nos relatos. Ao decorrer do filme, todos, exceto Randy, se submeterão ao experimento e vão reviver traumas do passado através da experiência.
            A justificativa apresentada por Nelson para a realização do experimento revela a ideologia científica predominante do ocidente: “a filosofia falhou, a religião falhou – agora é a vez da ciência física”. Esta ideologia coloca a ciência experimental no papel da “reveladora de verdades”, é ela quem deve fornecer as respostas para a sociedade moderna e contemporânea. Toda a experiência é controlada cientificamente – como será induzida a parada cardíaca, como o cérebro será monitorado antes e depois da “morte cerebral”, quanto tempo deve-se esperar até iniciar a reanimação e como iniciar a reanimação. Este controle também reforça a ideologia científica do ocidente, a qual defende que só é possível alcançar verdades através do controle e da neutralidade em experimentos isolados nos laboratórios. É tanto que Nelson chama o local aonde ocorrem as experiências de “meu laboratório”.
Uma outra manifestação desta ideologia científica ocorre nas diversas vezes em que os estudantes recorrem ao cérebro para obter explicações e só tendo certeza de que o cérebro estava morto podiam aceitar interpretações não-médicas; o tempo em que o cérebro permaneceu inativo configura-se como um critério para validar estas outras explicações - a última experiência de Nelson, por exemplo, chegou a durar 12 minutos. Atualmente, predomina na ciência a idéia de que o cérebro contém as respostas para diversas questões humanas, sejam elas biológicas, sociais ou subjetivas. É tanto que quando os amigos começam a reviver imagens traumáticas após a experiência, eles pensam que estão sofrendo alguma alucinação. “Alucinação” é como muitos cientistas chamam as EQMs relatadas pelos pacientes, explicando-as pelo funcionamento cerebral no processo do morrer até a reanimação. No entanto, a experiência é sempre “real” para quem a vive, como ilustram os personagens do filme, que se sentem profundamente transformados.
            O conflito entre ciência e religião também aparece: os estudantes pensam em “Deus” nos momentos mais difíceis do filme. Quando Joe, Rachel, Nelson e David estão sofrendo diante da manifestação de seus traumas do passado, Randy diz “estamos pagando pela nossa arrogância” – a arrogância, neste caso, seria a pretensão científica de obter respostas que entram no domínio religioso; o que se confirma no final do filme, quando os estudantes não estão conseguindo trazer Nelson de volta e David suplica “desculpe Deus, nós penetramos o seu território”.   A ideologia religiosa que se manifesta no filme é predominantemente cristã, mas percebe-se a presença do conceito hindu “karma”, também incorporada no Espiritismo. Os estudantes acreditam que estão passando por uma “expiação”, tendo a oportunidade de superar seus “karmas” ou erros/conflitos do passado, que foram evocados na EQM. Os amigos precisam aprender sobre o perdão para se libertarem do sofrimento, que eles mesmos geraram em si mesmos ao “penetrar o domínio de Deus”. E neste domínio, a medicina não manda: os personagens só retornam à vida quando vivem o conteúdo principal da experiência, não importa o quanto os colegas estejam se esforçando para trazê-los; no final, ao tentar reanimar Nelson, Rachel confirma isso ao dizer “não apresse, ele já vem”.  
            O filme “Linha Mortal” ilustra muito bem as ideologias que atravessam os discursos sobre as experiências de quase-morte. Curiosamente o filme termina com a imagem de “Deus” apontando o dedo para nós, que assistimos ao filme – transmitindo a noção do poder dele sobre nós diante das nossas escolhas, e do nosso livre-arbítrio perante elas, trazendo boas ou más consequências.

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