quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Diversidade nas EQMs

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Na ciência ocidental, o tema “Experiências de Quase-morte” é recente; faz apenas 30 anos que Raymond Moody publicou sobre (Fenwick, 2013). Desde que o tema começou a ser investigado cientificamente, há uma tendência de buscar padronizações e estruturações (ver os marcadores "O que é" / "Como este tema é pesquisado?"). Dentro desta perspectiva de pesquisa, que pode ser considerada empírico-analítica, diferenças culturais e subjetivas podem ficar em segundo plano. Em um artigo publicado pelo site da Horizon Research, intitulado “Religião e Cultura afetam as Experiências de quase-morte?”, afirma-se o interesse científico de universalizar o fenômeno em estudo. Considerando que o interesse ideológico adotado pelo pesquisador pode vir a influenciar o resultado da pesquisa, é necessário que outros estudos analisem o fenômeno a partir de outro enfoque. Adotar uma perspectiva histórico-hermenêutica pode ser um caminho para compreender as especificidades e singularidades das EQMs.
De fato, muitos estudos indicam que alguns elementos (experiência de estar fora do corpo, percepção de luz ou de seres não-físicos, mudanças após a vivência) se repetem nos relatos independentemente da idade ou do contexto sociocultural. Entretanto, é inegável que estes elementos estão historicamente presentes também em outras culturas e em contextos diferentes da “quase-morte”. Singh Ji Maharaj (n.d), por exemplo, informa que através da meditação “a pessoa pode viajar pelo além e gozar da mesma bem-aventurança e amor descritos por aqueles que tiveram experiências de quase-morte” (p. 02). Além disso, diferentes religiões defendem que somos capazes de entrar em contato com seres de outros mundos não-físicos: os espíritas se comunicam com os falecidos, os cristãos podem ver anjos ou santos e ainda há aqueles que interagem com orixás ou espíritos da natureza.
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O uso de drogas, como o LSD, Ayahuasca ou "Jurema", também pode gerar a percepção de seres não-físicos e transformações pessoais. Kelmer (2001) relata sua experiência ao usar "Jurema" e diz que foi "conduzido para dentro de mim mesmo pelo próprio espírito da planta, que me guiou, comunicou-se comigo, me assustou, me fez rir e ensinou coisas maravilhosas". Muitas das pessoas que utilizaram o LSD também relatam ter tido experiências espirituais que mudaram a sua forma de perceber o mundo. No próprio âmbito hospitalar experiências semelhantes são vivenciadas por pessoas próximas da morte e, neste caso, são chamadas “visões no leito de morte”. Há inclusive casos relatados por pacientes que foram diagnosticados com alguma psicopatologia. Mas, na perspectiva empírico-analítica esta diversidade de contextos fica em segundo plano, pois há uma necessidade científica de delimitar o objeto em estudo. Greyson, por exemplo, desenvolveu, em 1983, uma escala para distinguir e identificar aqueles que vivenciaram uma EQM; a escala é subdividida em quatro dimensões (cognitivo, afetivo, paranormal e transcendental) e a distinção é realizada a partir das pontuações obtidas (Fenwick, 2013; Fernandes, s.d).

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A diversidade cultural também aparece na interpretação e verbalização das experiências, como informa o site da “Horizon Research”. Há muitas singularidades nos relatos. No entanto, poucos estudos focam nesta diversidade. Veja a próxima postagem “Diversidade no Paraíso” e reflita sobre as influências culturais na quase-morte.



Referências Bibliográficas
Fenwick, 2013. As experiências de quase morte (EQM) podem contribuir para o debate sobre a consciência?. Rev Psiq Clín. 40(5):203-7. 

Bauer, M. W.; Gaskell, G. (2002). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático /  tradução de Pedrinho A. Guareschi. Petrópoles, R.J: Vozes.  

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